“No fundo este concerto foi originado pelo facto de que em 1918 estarmos em guerra e cá em casa jantavam às 7h da tarde para pouparem luz. Claro que às 8h subiam as escadas e iam para os salões.

Normalmente era o Tio António que começava com a música, porque também era um improvisador fantástico. Claro que era seguido pelo resto da Família: a Tia Céu era violinista, a Isabel era violoncelista e o meu Avô Viriato, que tinha ouvido puro, tocava 4 instrumentos de sopro e conseguia acompanhar a música.

Como estes serões davam-se durante as férias de verão, António convidava vários outros colegas, como o Fernando Leitão, o Lourenço Varela Cid, o António Fernando Cabral e até a Francine Benoit.

As noites eram quentes. Como o calor apertava, abriam-se as janelas. O que acontecia a seguir era que passavam por debaixo dessas janelas habitantes da Pocariça…e ficavam a ouvir.

No dia seguinte, além do bate boca, os ouvintes do dia anterior carregavam uma cadeira para estarem comodamente a ouvir aquela música bonita. A meio do mês de Julho já o largo em frente à casa estava cheio de cadeiras que chegavam a cobrir a estrada de um lado ao outro.

Esta história foi-me contada pela madrinha de António com quem vivi até aos meus 16 anos e logo prometi a mim próprio um dia reconstituir estes concertos.

No primeiro Concerto tivemos quase 1000 pessoas que, num silêncio quase sepulcral, ouviam a música sem ver os artistas que estavam a tocar. Só quando acaba o concerto é que os artistas descem à rua para receberem os aplausos.”