Mensagem do Presidente

A missão de tornar António Fragoso num compositor Imortal

A missão de tornar António Fragoso num compositor Imortal

António Fragoso e a sua Associação

António de Lima Fragoso (seu nome familiar) nasceu na aldeia de Pocariça, concelho de Cantanhede, em 17 de Junho de 1897 e faleceu no dia 13 de Outubro de 1918. A sua existência durou apenas vinte e um anos, vividos apressadamente.

Tornou-se num virtuoso do piano e num compositor com dotes excecionais. As poucas aulas de composição que teve foram ministradas pelo grande mestre Luís de Freitas Branco, mas tinha planos para estudar em França com Vincy D’Indy e provavelmente com Gabriel Fauré. Quando faleceu tinha já comprado bilhete para Paris, com viagem marcada para oito dias depois, para ir estudar na Scuolla Cantorum.

Depois da sua morte, o seu Pai, Viriato Fragoso, criou o Livro dos Manuscritos e fez um primeiro estudo sobre as 650 cartas que António deixou, todas elas bem escritas e na sua maioria dirigidas ao seu Pai.

Nessa correspondência revela muito da sua intensa vida, primeiro no Porto, em casa do seu padrinho, o Professor Catedrático José de Oliveira Lima, e, posteriormente, em Lisboa, na casa de seu tio Pedro de Sá Fragoso, onde viveu até acabar com a nota máxima de 20 valores o seu Curso Superior de Piano, no Conservatório Nacional.

Posteriormente, a única irmã de António Fragoso que sobreviveu à pneumónica, Maria Fernanda, depois de ter ficado viúva aos 35 anos dedicou-se a dois objetivos na sua vida: dar ferramentas para que os seus 6 filhos pudessem singrar na vida, objetivo que foi atingido em pleno; e dar vida ao legado do seu Irmão.

Maria Fernanda chegou a assinar com a Valentim de Carvalho um contrato para a edição completa das obras de António Fragoso. Algum tempo depois recebeu uma carta informando que podia ir buscar o Livro dos Manuscritos, pois as cópias estavam todas feitas e até as de piano estavam já a ser impressas em dois cadernos de partituras.

Ela, logo que pôde, foi apanhar o referido Livro de Manuscritos, mas oito dias depois dá-se o terrível incêndio do Chiado. A Casa Valentim de Carvalho ficou em cinzas e, entre elas, estavam as tais cópias dos manuscritos de Fragoso. Maria Fernanda sentiu que não podia ficar à espera que o Estado fizesse algo pelo legado do seu Irmão.

Foi assim que, fruto da sua resiliência, conseguiu que o Instituto de Alta Cultura editasse e revisse todas as obras cujas cópias tinham ardido. Falamos da Sonata em Mi, das canções (19) e das três peças de música de câmara. Diria que este objetivo também foi alcançado.

Em 1986, o pianista Miguel Henriques fez-nos a surpresa de editar um CD totalmente dedicado à música de piano de António Fragoso, julgando estar a editar em disco a Integral das peças de piano (descobriram-se posteriormente mais 15 inéditos de piano). Esta foi uma primeira pedrada no esquecimento de Fragoso, que cada vez se tocava menos, até porque as suas partituras se iam esgotando rapidamente.

Em 2007, o candidato a Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede quis ouvir os herdeiros do espólio de Fragoso, pois queria homenageá-Lo porque durante o seu mandato se comemorariam os 95 anos da morte deste compositor e esta é a sua cidade natal.

É óbvio que a Família ficou feliz, pondo apenas uma ressalva: que a reedição do livro “António Fragoso – Um Génio feito Saudade,” de Leonardo Jorge, nada se alterasse (nem a redação, nem a grafia). Apenas se achava que se justificava adicionar um posfácio sobre a sua música, escrito por um musicólogo de alto gabarito.

O Prof. Doutor Paulo Ferreira de Castro concordou em fazer o referido posfácio. Veio à Casa de António Fragoso onde passou oito dias mergulhado em todo o seu espólio. Findo o período de uma primeira análise, nada disse e partiu para Lisboa. Dois ou três dias depois telefona a informar que tinha falado com o Reitor da Universidade Nova de Lisboa, que concordou em se preparar um Colóquio Internacional sobre António Fragoso.

Ao mesmo tempo, as homenagens prosseguiam e o Município de Cantanhede promoveu um concerto que começou com a “Morte de Aase,” do Peer Gynt, de Grieg, a última música que António Fragoso tocou momentos antes de ir para o seu leito de morte.

A 21 de Outubro de 2008 realiza-se o Colóquio Internacional “António Fragoso e o seu Tempo” na Universidade Nova de Lisboa. Este evento foi outra pedrada no esquecimento, pois as várias palestras foram todas brilhantes e acabou por ser descoberto um “novo” António Fragoso, que passou a ser um imortal vivo.

E para este novo Fragoso era necessário que a Família se unisse num projeto que reabilitasse este génio musical do limbo do esquecimento, porque não havia partituras à disposição dos intérpretes, nem tecnicamente bem revistas. Não havia CD’s. Não havia concertos que incluíssem a sua música. António Fragoso não era conhecido nem pela maioria dos Portugueses, nem no estrangeiro.

Então, os seus seis sobrinhos e treze sobrinhos-netos resolveram criar, a 28 de Janeiro de 2009, a Associação António Fragoso (AAF).

Desde que a AAF meteu mãos à obra, uma das primeiras coisas que foi feita foi pedir aos nossos melhores compositores para rever as partituras de Fragoso, que agora estão eficazmente notadas e impressas. Faltam apenas as partituras de música de câmara, que estão a ser trabalhadas.

Entretanto, foram-se produzindo vários CD´s: hoje estão editadas as Integrais de Canto e Piano e as peças de Fragoso para Piano e música de Câmara. Em breve estarão prontas novas gravações de peças para Orquestra e para Coro, uma extensão da obra de Fragoso que a AAF resolveu fazer.

No primeiro ano de atividade da AAF, programámos sete concertos totalmente dedicados à música de Fragoso, para combater o Seu esquecimento; dez anos depois, tínhamos dado 453 concertos, mas totalmente Fragosianos só foram dois. Assim se foi demonstrando que a música de Fragoso não era inferior à de outros compositores cuja fama já tornou imortais.

Por outro lado, criámos duas Academias de Ensino da Música: uma iniciática que dá formação musical aos jovens dos 3 aos 16 anos e que, estando em Cantanhede, só se podia chamar Academia de Música António Fragoso; e outra em Coimbra, a Academia Internacional de Música “Aquiles Delle Vigne”, que inicialmente era o diretor dessa Academia. Hoje, o seu Diretor é o pianista português Manuel Araújo, cujos dotes pedagógicos e artísticos são extraordinários. Hoje, face à sustentabilidade (devido aos muitos alunos estrangeiros) deste estabelecimento de ensino musical, é uma empresa (A2DV) e o fluxo de alunos tem se mantido.

Criámos também seis agrupamentos musicais que tocam desde a música antiga, à música erudita, ligeira e jazz. E assim espalhamos boa música.

Hoje, falar da Associação António Fragoso, significa que Ele é um autor de cariz mundial e que recomeça a ser um nome das artes musicais que se pode e deve comparar com aqueles compositores estrangeiros famosos.

Uma última palavra: felizmente o nome de ANTÓNIO FRAGOSO começa a ser conhecido internacionalmente, como se pode ver pelo convite do Centre Européen de Musique para aderirmos à Rede das Casas de Compositores ou Artistas Famosos e ao próprio Centro.

Eduardo Fragoso M. Soares
Presidente da Direção de AAF

Pocariça, Agosto de 2023