António Fragoso
Compositor, Músico, Escritor
Compositor, Músico, Escritor
1897 – 1918: 21 anos de uma vida breve
António de Lima Fragoso nasceu a 17 de Junho de 1897 na Pocariça, Concelho de Cantanhede, no seio de uma família da burguesia. Filho de Viriato de Sá Fragoso e de Maria Isabel de Sá Lima Fragoso, cresceu rodeado de estímulos intelectuais e artísticos, numa família que gostava de Música e Artes.
Os seus estudos musicais começaram aos seis anos com um dos seus tios, António dos Santos Tovim. Médico de profissão, mas com uma vasta cultura musical, foi este tio que lhe deu as primeiras lições de piano e solfejo, iniciando a sua formação musical. Embora não fosse músico, podemos dar ao Dr. António Tovim o mérito de motivar o jovem Fragoso para a Música, uma paixão que alimentaria toda a sua breve vida.
Mudou-se para o Porto assim que concluiu a instrução primária, passando a aprofundar os seus estudos de piano sob a orientação do conceituado professor Ernesto Maia. Foi também nesta cidade que concluiu o Curso Geral dos Liceus e os dois primeiros anos do Curso Superior de Comércio.
Apesar de ter sido no Porto que a personalidade artística de António Fragoso se começou a desenvolver, estes anos da sua vida não lhe foram fáceis. As saudades da sua bucólica aldeia e a sua extraordinária capacidade intelectual, tornaram difícil a sua adaptação à cidade, onde teve dificuldade em criar amizades com os jovens da sua idade e sentia que os adultos não o levavam a sério.
Pensa-se que foi a forma como se sentia que o levou, nesses anos entre 1907 e 1914, a começar a escrever e a compor, iniciando um percurso artístico que parecia determinado em prosseguir quando decidiu que iria continuar e aprofundar os seus estudos musicais.
Algumas notas biográficas referem que teve que vencer uma certa resistência dos pais para se matricular no Conservatório Nacional de Música de Lisboa, que frequentou até 1918, ano em que obteve o diploma do Curso Superior de Piano com a nota máxima de 20 valores.
Ainda como estudante realizou um percurso artístico pelos círculos culturais portugueses, onde foi reconhecido não apenas como excelente pianista, mas também como um jovem compositor promissor. Foi considerado pelos críticos da época como “um dos mais poderosos talentos da sua geração”.
Jovem curioso e maduro para a sua idade, diz-se de Fragoso que “viveu com a determinação de ser um artista do seu tempo” (Inês Andrade, Glosas 18, MPMP) e que levou a vida a seu ritmo.
Ao terminar os seus estudos no Conservatório em Lisboa voltou à sua aldeia natal na Pocariça, determinado a partir para Paris para aprender com os grandes mestres do seu tempo e aperfeiçoar o seu génio artístico e criativo.
Foi ali que, no dia 13 de Outubro de 1918, a morte o surpreendeu aos 21 anos, vítima da gripe pneumónica que nessa época se abateu em toda a Europa. Faltavam apenas oito dias para a sua partida para a França.
O Amor pela Música que criou uma obra viva
Tudo começou aos 16 anos, quando António Fragoso publicou e estreou em público a sua primeira composição – “Toadas da Minha Aldeia” – muito aplaudida pela crítica musical. Na sua breve vida escreveu músicas para piano e para canto e piano, música de câmara e de orquestra. Deixou-nos mais de 35 composições.
Segundo uma análise do Maestro Martim de Sousa Tavares, “Fragoso não compôs como se devesse morrer aos vinte e um anos, com urgência e sofreguidão, e a sua obra é pequena, fragmentária, e principalmente feita de miniaturas.” No entanto, “Fragoso é assim mesmo: vário, disperso, permanentemente apaixonado, heterogéneo e permeável.”
Geralmente os musicólogos destacam do conjunto da sua obra os “Prelúdios” e a “Petite Suite” para piano, os lieder para canto, as partituras de música de câmara e os Nocturnos. O “Nocturno em Ré bemol Maior” é considerada a peça mais emblemática do seu imenso talento como compositor.
Recordando António Fragoso, o Maestro Pedro de Freitas Branco, citado pelo escritor Leonardo Jorge, afirma que “21 anos de vida não chegam para nada” e “morrer aos 21 anos é quase não ter vivido.”
Para Freitas Branco, Fragoso “tinha a envergadura necessária para se tornar o maior compositor português de todos os tempos. Era um músico intelectual. A sua vincada personalidade impunha-o tanto à nossa admiração, como o seu génio de compositor. Espírito brilhante, de uma singular penetração, deixou-nos, no pouco que nos deixou, a amostra gloriosa daquilo que realizaria se tivesse tido tempo de realizar.”
Graças a um esforço da sua Família e amigos, após a sua morte, a obra de António Fragoso não caiu no esquecimento. É por isso que muitos, como o Maestro Sousa Tavares, classificam este como um “caso absolutamente único na história da música em Portugal.”
As suas partituras foram inicialmente editadas pela Companhia Nacional de Música e estavam à venda no Chiado, em Lisboa. Atualmente é a editora da Associação António Fragoso, FRAMAT, a responsável pela maioria das edições que se produzem com a obra deste compositor. Hoje, as partituras de António Fragoso são vendidas para todo o mundo.
Por iniciativa do seu sobrinho, Eduardo Fragoso, Presidente da Associação António Fragoso, novos arranjos e orquestrações da obra deste compositor têm sido criadas e estreadas em público, e muita da sua obra tem sido recuperada, conservada e revalorizada.
Com um reconhecimento crescente a nível nacional e internacional, é caso para dizer que a obra do compositor António de Lima Fragoso continua viva e ainda nos proporciona descoberta e novidade.
“É realmente o Amor o esteio de todas as Artes, e principalmente da Música, sem dúvida aquela que d’entre todas, se eleva mais alto nos limites da inteligência humana, aquela que, sendo d’origem divina, nos faz subir às altas regiões do Mistério, aquela que melhor nos traduz as emoções da nossa alma e portanto melhor nos faz compreender a mais extraordinária maravilha que povoa o Orbe – o Amor!”
António de Lima Fragoso
António Fragoso no presente
Em 2009, os herdeiros de António Fragoso constituíram a Associação António Fragoso, que tem por principal objetivo deixar para as gerações vindouras todo o seu legado musical e literário.
Com mais de uma década de vida ao serviço da cultura portuguesa, esta Associação tem promovido diversas iniciativas e celebrado diferentes protocolos, que permitem preservar, difundir e divulgar a obra de António Fragoso.
Fruto desse esforço, a Associação António Fragoso promove concertos, conferências, encontros, eventos, edições e aposta no ensino da música e na produção musical. O objetivo é que a música de António Fragoso seja tocada assiduamente e que o seu nome e obra sejam consolidados junto dos públicos nacional e internacional.
Atualmente, o espólio de António Fragoso está à guarda da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, disponível para investigadores, músicos e fãs que queiram aprofundar os seus conhecimentos sobre este compositor.
Em breve, e com um olhar no futuro, anunciam-se novidades sobre a Casa de António Fragoso, que hoje faz parte da Rede Europeia de Casas e Museus de Artistas e Compositores e torna a Associação António Fragoso, que ali tem a sua sede, num membro do Centre Européen de Musique.
Testemunhos
O que se diz sobre António Fragoso?
La música de António Fragoso es mui sensitiva y com la elegância de un joven genio compositor.
Hay que tocarla basándose en esse ingenuidade de la inocencia.
No parece “contaminada” com la época-Esto me parece un punto essencial para la interpretación. Sin maquillages, sino com sinceridade y profundidad.
Aquiles Delle Vigne
Pianista
Apesar da sua curta existência, Fragoso deixou um conjunto de obras que tem exercido grande fascínio junto dos músicos e melómanos e que o coloca entre as figuras de relevo da história da música em Portugal dos inícios do século XX.
Foi o criador de páginas pianísticas admiráveis…
Paulo Ferreira de Castro
Atas do Colóquio “António Fragoso e o seu Tempo”
Estamos em dívida para com o compositor, e devemos virar a página já faz tempo. Como confirmaria La Palice, Fragoso, antes de morrer estava vivo. E foi vivo, e não ao morrer, que fez as únicas coisas que lhe podem garantir um lugar na história…
Martim Sousa Tavares
Maestro
No atrasado contexto português, como sabemos, apenas Luís de Freitas Branco, Ruy Coelho e poucos mais compositores brandiam o estandarte da modernidade, e é neste contexto que a música de Fragoso representava, ainda em 1918, uma certa novidade…
O futuro da música de António Fragoso passa também, creio, pela capacidade desta suscitar em nós, ainda hoje, este amor e este entusiasmo.
Sérgio Azevedo
Compositor
O posicionamento de Fragoso mostra-nos uma sensibilidade desfasada do seu tempo, consciente de que na arte não devem existir modas nem «movimentos», tal como a ciência só existe quando acabam as «escolas». Essa sensibilidade negou a pressão conjuntural e aproximou-se, de forma pioneira, do «intemporal»… De qualquer forma, tudo isto me parece ainda mais peculiar quando se tem em conta a idade de António Fragoso.
Num país sempre à procura de heróis para enaltecer o orgulho pátrio, é uma pena deixarmos de fora oportunidades deste calibre.
Luís Valente Rosa
Revista Visão